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domingo, 18 de maio de 2014

BATE PAPO SOBRE SAÚDE COLETIVA COM A PROFESSORA LUZIA LEÃO



A Primeira entrevista do Blog da Saúde Coletiva foi realizada no dia 07 de Maio de 2014 com a coordenadora da Clínica de Saúde Coletiva do internato da UNIC e conversamos sobre alguns temas relacionados a história da saúde coletiva na UNIC e sua opnião diante do advento da estratégia saúde da família, das diretrizes do MEC, do relacionamento com os gestores  e o reconhecimento interno na instuição. Foi um momento no qual pudemos conhecer um pouco da história do internato em saúde coletiva em comparação ao cenário atual. Além é claro, que não podia faltar, conversamos sobre a criação do blog e a importância dele. Segue para vocês um texto escrito pela professora onde estão documentado os principais temas discutidos. Espero que gostem!! 





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Em 04 de agosto de 1997 foi proferida a primeira aula da Faculdade de Medicina da Universidade de Cuiabá, que já formou dezesseis turmas de profissionais de sucesso. As Diretrizes Curriculares do MEC de Dezembro de 2001 ainda eram futuro,  mas o currículo da nova faculdade já contemplava avanços, como o internato em dois anos, sendo  um dos dez  rodízios, em saúde coletiva.  Quanto às recentes novas diretrizes (Abril 2014) é provável que tenhamos que aumentar carga horária curricular na atenção básica.

O curso de medicina acaba de reconquistar junto ao SINAES-Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior suas prerrogativas plenas e isso é muito bom, principalmente para os atuais e antigos alunos. O caráter continuado desta avaliação sistêmica deverá render bons frutos para esse  curso e todo o sistema brasileiro formador de médicos e o status conquistado de sinal verde não significará jamais que não há reparos, que não há desafios importantes a serem vencidos.

A inserção “precoce” do alunado na rede ainda é uma miragem brasileira,  com exceções pontuais.   A formação melhor balanceada entre cenários hospitalares e cenários variados da atenção integral em saúde,  também. A atenção à saúde das pessoas das famílias e comunidades é a mais complexa das atenções. Requer preparo especializado e suporte adequado (remuneração, insumos adequados, respostas sistêmicas, em tempo hábil). ??? O que dizer da inexistência/insuficiência de apoio, segurança, meios, para o trabalho intra-comunitário, intra-domiciliar?! O que dizer das instalações insuficientes e precaríssimas para abrigar o trabalho “in door”? Como oferecer o mínimo-dígno-necessário de conforto aos usuários,  aos trabalhadores e aos alunos?!

Superar esse distanciamento vai continuar requerendo decisões políticas específicas e  negociações objetivas entre condutores/gestores maiores das instituições formadoras   (donos dos negócios,  reitores, MEC)  e das instituições prestadoras de serviços (governadores, prefeitos, MS) e eles farão isso apenas quando forem pressionados a fazer. População (des)assistida,  alunado, professores, trabalhadores da saúde em geral, e suas organizações,  podem constituir ( e constituem) um “caldeirão de pressão”, mas  precisam politizar no bom sentido, essa cena. Envolver e pressionar os parlamentos, os ministérios públicos, para que orçamentos e normatizações convirjam nesse sentido e direção.

Mesmo em situações cotidianas, menores (sic) as áreas de ensino em saúde coletiva remam contra-a-corrente, não são compreendidas nas suas especificidades, tais como: alimentação e transporte em território inóspito, grande e pulverizado; menor governabilidade do tempo versus a  inflexibilidade de horários e espaços para aulas e demais atividades de ensino.

A primeira turma de medicina da UFMT formou-se em 21 de agosto de 1986 e cumpriu a disciplina Internato em Saúde Coletiva I, chamado Internato Urbano, no quinto ano do curso. Á essa época tornei-me a primeira Professora Supervisora do Internato em Saúde Coletiva II ( Internato Rural, sexto ano do curso) na cidade/município de Reserva do Cabaçal, após um intenso e aguerrido processo de discussão institucional, que culminou na sua criação. O aluno Gonçalo Curvo, da primeira turma, fez a disciplina, em caráter opcional e excepcional. Pela data, sabe-se que o SUS-Sistema Único de Saúde ainda não estava instituído  e, mais ainda, a estratégia saúde da família. Porém, o que fazíamos em Reserva do Cabaçal pela UFMT, era o que se fazia em algumas experiências da UFRGS,  da UFMG, da UnB e possivelmente em outras experiências brasileiras e que desembocou na segunda metade dos anos 90, no PSF e, depois, ESF_Estratégia Saúde da Família. Conseguimos um veículo Pampa da Fundação Kellog para nos transportar para as lonqinquas comunidades rurais do município (cerca de 700 Km de Cuiabá) e fazíamos um trabalho “territorializado, mapeado, planejado, centrado nas pessoas-das-famílias”, contando com uma distante retaguarda de especialistas e hospitalar de Cáceres e do nosso Hospital Universitário, em Cuiabá. Morávamos em uma casa mantida pela Prefeitura, o “Posto de Saúde” era estadual  e “nós” éramos federais ( convênio tri-partite). Não havia médicos no município e não existia telefone celular e internet e o único e distante telefone público podia demorar um dia inteiro para completar uma chamada, que podia cair, por nada.

Fundamentei uma crença inabalável ou conseguimos cobrir os nossos territórios-comunidades com atenção primária, em unidades de saúde adequadas às características locais, como ampla e acessível porta para um sistema de atenção integral, ou  não teremos êxito, ainda que os orçamentos acanhados aumentem, a gestão melhore e a qualificação técnica continuada torne-se realidade. Os pressupostos para essa crença recebi das experiências vividas até então e sempre e, muito mesmo, dos posicionamentos, ações e conversas e aulas com o inesquecível Professor Frederico Simões Barbosa,  primeiro presidente da ABRASCO-Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

Dito esse resumo de situação,  creio que fica melhor compreensível aos que desconheciam esses fatos,  a nossa atitude de defesa intransigente  das “potencialidades revolucionárias” da Estratégia Saúde da Família, em todas as situações e relações em que já estive ( e estarei),  desde 1978, quando cheguei de Brasília para lecionar e  morar em Cuiabá, Mato Grosso, Brasil: professora de saúde pública, clínica e anestesiologia da UFMT,  até 2004; primeira médica do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá;  terceiro(a) dermatologista de Cuiabá e Mato Grosso e do Dispensário de Hanseníase do Estado;  Primeira Coordenadora do Centro de Saúde-Escola do Grande Terceiro; Secretária-Executiva da Primeira Conferência Estadual de Saúde e Delegada de Mato Grosso na Oitava Conferência Nacional de Saúde; Conselheira do CRM-MT; Tesoureira da SBD-MT; Secretária da COOPANEST-MT;  Professora-Chefe de Anestesiologia do Hospital Geral Universitário até a criação da residência médica; Secretária de Estado da Saúde do Estado de Mato Grosso; candidata a vereadora com 1.241 votos de cuiabanos; ex-Membro da Academia Mato-Grossense de Medicina; atualmente: Professora Coordenadora da Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina da UNIC  e médica-dermatologista da Unimed_Cuiabá.

Louvo as alunas Ana Flávia Nasrala, Juliana Zarantonielli, Maria Eduarda De Musis e Talita Tenuta e professore(a)s envolvidos na criação desta formidável ferramenta,  que é o Blog da Saúde Coletiva-FM-Unic.

Os textos que porventura venha postar, não os quero “da minha autoria” quero vê-los emendados, completados, em expressão-criação coletiva. Nada mais “insignificante” do que uma tese, uma dissertação, um texto, um livro, empilhado em algum lugar, sem serventia, ou servindo tão-somente para engrossar currículo. Façamos do nosso trabalho e produções,  pontes que possibilitem à grande massa de pessoas_nossos irmãos e irmãs_alcançarem as benesses da importante medicina brasileira e da  possível-formidável atenção integral à saúde.
AbraSUS,
Profa. Luzia Leão

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