A HANSENÍASE NO BRASIL
"Desde a antiguidade, os portadores de hanseníase sofreram exclusão social e o preconceito da sociedade em relação à doença. A visão medieval da lepra e do portador da doença atravessou os séculos e medidas de exclusão ao "leproso" continuaram a ser praticadas em nome do bem estar da coletividade. No século XIXas formas de transmissão e de tratamento ainda eram desconhecidas. A primeira política de isolamento dos "leprosos" foi proposta por Amauer Hansen na I Conferência Internacional da Lepra, no ano de 1897, em Berlim.
No Brasil, a atenção aos portadores de “lepra” era realizada por instituições religiosas ou filantrópicas que tinham por objetivo recolher e dar assistência aos "leprosos" e proteger a sociedade sadia dos doentes.A criação de colônias agrícolas foi sugerida em 1919 pela Associação Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro.
As colônias deveriam ter condições apropriadas para a segregação dos doentes, medidas para impedir os casamentos destes e a proibição do comércio de produtos manipulados por eles. Durante o Governo Vargas (1930-1945), a profilaxia da “lepra” se baseava no tripé leprosários/preventórios/dispensários. Aos leprosários cabia o isolamento compulsório de todos os casos, os preventórios dedicavam-se ao cuidado, à educação e à observação dos filhos de doentes e os dispensários realizavam o diagnóstico da doença e o encaminhamento para o isolamento dos doentes.
Em 1949, foi criada a lei que definia as medidas de profilaxia da “lepra” que compreendia o isolamento compulsório de todos os acometidos, a vigilância e o controle de todos os suspeitos, a notificação compulsória de todos os casos e o afastamento dos menores das fontes de contágio (os pais)
Com a internação dos pais nas colônias, as crianças sadias muitas vezes não tinham para onde ir, pois os demais familiares, devido ao estigma da doença, se recusavam a cuidar de tais crianças pelo medo do contágio. Os preventórios eram vistos como uma importante medida de profilaxia, pois o afastamento da criança do convívio com os pais ou parentes hansenianos consistia uma forma de assegurar o controle da doença .Quando os pais eram portadores da doença, logo após o nascimento, as crianças eram levadas para os preventórios. Nos preventórios, as crianças eram cuidadas por pessoas sadias, geralmente freiras, e o contato físico e afetivo com os pais não eram estimulados.
As medidas de profilaxia realizadas através do isolamento compulsório não consideravam as relações sociais dos indivíduos acometidos pela doença, fazendo com que laços familiares fossem desfeitos, o que causou impacto tanto na vida dos hansenianos como de seus familiares. A internação compulsória causava reflexos diretos no comportamento dos doentes, pois estes se encontravam numa situação de desamparo familiar
As mães relatam que podiam visitar seus filhos, porém, pobres e sem emprego, essas mães ficavam até meses sem visitar os filhos, pois tinham que fazê-lo com recursos próprios. As visitas eram restritas ao olhar, as mães ficavam em uma sala e os filhos em outra, separados por uma vidraça
A forma de lidar com a hanseníase pela saúde pública no século passado pode ser comparada a eventos de violência extrema contra o ser humano, como os campos de concentração da II Guerra Mundial. Esta metáfora é inclusive utilizada pelos pacientes e entidades de defesa como o MORHAN."
FONTE: Santos Lima de Almeida, Suellen, Cançado Monteiro Savassi, Leonardo, Torres Schall, Virgínia, Modena, Celina Maria. Maternidade e hanseníase: as vivências de separação devido ao isolamento compulsórioEstudos de Psicologia [On-line] 2012, 17 (Mayo-Agosto) : [Data de consulta: 4 / junho / 2014] Disponível em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26124614011> ISSN 1413-294X
MORHAN: Movimento de Reintegração as Pessoas Atingidas pela Hanseníase é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 6 de Junho de 1981. Suas atividades são voltadas para a eliminação da Hanseníase, através de atividades de conscientização e foco na construção de políticas públicas eficazes para a população.O Morhan luta pela garantia e respeito aos Direitos Humanos das pessoas atingidas pela hanseníase e seus familiares. Lutam pela extensão da indenização que foi reconhecida aos pacientes com hanseníase que sofreram segregação social nas colonias, também aos seus familiares, que sofreram em preventórios.
Saiba mais:
http://www.morhan.org.br/biblioteca
Autores do post:
Cleo Borges, Médico de Família e Comunidade
Luciana Boiça, Médica de Família e Comunidade
Ana Flavia Soares Nasrala. acadêmica sexto ano da Faculdade de Medicina UNIC
Juliana Zarantonielli , acadêmica sexto ano da Faculdade de Medicina UNIC
Maria Eduarda De Musis, acadêmica sexto ano da Faculdade de Medicina UNIC
Talita Tenuta, acadêmica sexto ano da Faculdade de Medicina UNIC
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