A Primeira entrevista do Blog da Saúde Coletiva foi realizada no dia 07 de Maio de 2014 com a coordenadora da Clínica de Saúde Coletiva do internato da UNIC e conversamos sobre alguns temas relacionados a história da saúde coletiva na UNIC e sua opnião diante do advento da estratégia saúde da família, das diretrizes do MEC, do relacionamento com os gestores e o reconhecimento interno na instuição. Foi um momento no qual pudemos conhecer um pouco da história do internato em saúde coletiva em comparação ao cenário atual. Além é claro, que não podia faltar, conversamos sobre a criação do blog e a importância dele. Segue para vocês um texto escrito pela professora onde estão documentado os principais temas discutidos. Espero que gostem!!
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Em 04 de agosto de
1997 foi proferida a primeira aula da Faculdade de Medicina da Universidade de
Cuiabá, que já formou dezesseis turmas de profissionais de sucesso. As Diretrizes Curriculares do MEC de Dezembro de 2001
ainda eram futuro, mas o currículo da
nova faculdade já contemplava avanços, como o internato em dois anos, sendo um dos dez
rodízios, em saúde coletiva. Quanto
às recentes novas diretrizes (Abril 2014) é provável que tenhamos que aumentar
carga horária curricular na atenção básica.
O curso de medicina
acaba de reconquistar junto ao SINAES-Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Superior suas prerrogativas plenas e isso é muito bom, principalmente para os
atuais e antigos alunos. O caráter
continuado desta avaliação sistêmica deverá render bons frutos para esse curso e todo o sistema brasileiro formador de
médicos e o status conquistado de sinal verde não significará jamais que não há
reparos, que não há desafios importantes a serem vencidos.
A inserção
“precoce” do alunado na rede ainda é uma miragem brasileira, com exceções pontuais. A formação melhor balanceada entre cenários
hospitalares e cenários variados da atenção integral em saúde, também. A atenção à saúde das
pessoas das famílias e comunidades é a mais complexa das atenções. Requer preparo especializado e suporte adequado (remuneração, insumos
adequados, respostas sistêmicas, em tempo hábil). ??? O que dizer da inexistência/insuficiência de
apoio, segurança, meios, para o trabalho intra-comunitário, intra-domiciliar?! O que
dizer das instalações insuficientes e precaríssimas para abrigar o trabalho “in door”? Como oferecer o mínimo-dígno-necessário de conforto
aos usuários, aos trabalhadores e aos alunos?!
Superar esse distanciamento vai continuar
requerendo decisões políticas específicas e negociações objetivas entre condutores/gestores
maiores das instituições formadoras (donos
dos negócios, reitores, MEC) e das instituições prestadoras de serviços
(governadores, prefeitos, MS) e eles farão isso apenas quando forem pressionados a fazer. População (des)assistida, alunado, professores, trabalhadores da saúde
em geral, e suas organizações, podem
constituir ( e constituem) um “caldeirão de pressão”, mas precisam politizar no bom sentido, essa
cena. Envolver e pressionar os parlamentos, os
ministérios públicos, para que orçamentos e normatizações convirjam nesse
sentido e direção.
Mesmo em situações
cotidianas, menores (sic) as áreas de ensino em saúde coletiva remam
contra-a-corrente, não são compreendidas nas suas especificidades, tais como: alimentação e transporte em
território inóspito, grande e
pulverizado; menor governabilidade do tempo versus a inflexibilidade de horários e espaços para
aulas e demais atividades de ensino.
A primeira turma de medicina
da UFMT formou-se em 21 de agosto de 1986 e cumpriu a disciplina Internato em
Saúde Coletiva I, chamado Internato Urbano, no quinto ano do curso. Á essa época tornei-me a primeira
Professora Supervisora do Internato em Saúde Coletiva II ( Internato Rural,
sexto ano do curso) na cidade/município
de Reserva do Cabaçal, após um intenso e aguerrido processo de discussão
institucional, que culminou na sua criação. O aluno Gonçalo Curvo, da primeira turma, fez a disciplina, em caráter
opcional e excepcional. Pela
data, sabe-se que o SUS-Sistema Único
de Saúde ainda não estava instituído e,
mais ainda, a estratégia saúde da família. Porém, o que fazíamos em Reserva do
Cabaçal pela UFMT, era o que se fazia em algumas experiências da UFRGS, da UFMG, da UnB e possivelmente em outras
experiências brasileiras e que desembocou na segunda metade dos anos 90, no PSF
e, depois, ESF_Estratégia Saúde da Família. Conseguimos um veículo Pampa da Fundação Kellog para nos transportar
para as lonqinquas comunidades rurais do município (cerca de 700 Km de Cuiabá)
e fazíamos um trabalho “territorializado, mapeado, planejado, centrado nas
pessoas-das-famílias”, contando com uma distante retaguarda de especialistas e
hospitalar de Cáceres e do nosso Hospital Universitário, em Cuiabá. Morávamos em uma casa mantida pela
Prefeitura, o “Posto de Saúde” era
estadual e “nós” éramos federais (
convênio tri-partite). Não havia
médicos no município e não existia telefone celular e internet e o único e
distante telefone público podia demorar um dia inteiro para completar uma
chamada, que podia cair, por nada.
Fundamentei uma crença
inabalável ou conseguimos cobrir os nossos territórios-comunidades com
atenção primária, em unidades de saúde adequadas às características locais,
como ampla e acessível porta para um sistema de atenção integral, ou
não teremos êxito, ainda que os orçamentos acanhados aumentem, a gestão
melhore e a qualificação técnica continuada torne-se realidade. Os pressupostos para essa crença recebi das
experiências vividas até então e sempre e, muito mesmo, dos posicionamentos,
ações e conversas e aulas com o inesquecível Professor Frederico Simões
Barbosa, primeiro presidente da
ABRASCO-Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Dito esse resumo de situação, creio que fica melhor compreensível aos que
desconheciam esses fatos, a nossa
atitude de defesa intransigente das
“potencialidades revolucionárias” da Estratégia Saúde da Família, em todas as
situações e relações em que já estive ( e estarei), desde 1978, quando cheguei de Brasília para
lecionar e morar em Cuiabá, Mato Grosso,
Brasil: professora de saúde pública, clínica e anestesiologia da UFMT, até 2004; primeira médica do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá; terceiro(a) dermatologista de Cuiabá e Mato
Grosso e do Dispensário de Hanseníase do Estado; Primeira Coordenadora do Centro de
Saúde-Escola do Grande Terceiro; Secretária-Executiva da Primeira Conferência
Estadual de Saúde e Delegada de Mato Grosso na Oitava Conferência Nacional de
Saúde; Conselheira do CRM-MT; Tesoureira
da SBD-MT; Secretária da
COOPANEST-MT; Professora-Chefe de
Anestesiologia do Hospital Geral Universitário até a criação da residência
médica; Secretária de Estado da Saúde do Estado de Mato Grosso; candidata a
vereadora com 1.241 votos de cuiabanos; ex-Membro da Academia Mato-Grossense de
Medicina; atualmente: Professora Coordenadora da Saúde Coletiva da Faculdade de
Medicina da UNIC e médica-dermatologista
da Unimed_Cuiabá.
Louvo as alunas Ana Flávia Nasrala, Juliana Zarantonielli, Maria Eduarda De Musis e Talita Tenuta e professore(a)s envolvidos na criação
desta formidável ferramenta, que é o
Blog da Saúde Coletiva-FM-Unic.
Os textos que porventura venha postar, não
os quero “da minha autoria” quero vê-los emendados, completados, em
expressão-criação coletiva. Nada mais “insignificante” do que uma tese,
uma dissertação, um texto, um livro, empilhado em algum lugar, sem serventia,
ou servindo tão-somente para engrossar currículo. Façamos do nosso trabalho e
produções, pontes que possibilitem à
grande massa de pessoas_nossos irmãos e irmãs_alcançarem as benesses da
importante medicina brasileira e da
possível-formidável atenção integral à saúde.